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Terapia e pesquisa inovadoras: A experiência do Dr. Daniel San Juan no mundo da Neurociência

29 de abril de 2022

Neurovirtual: Olá, Dr. Daniel. Em primeiro lugar, gostaríamos de agradecer em nome da Neurovirtual por ter aceito nossa entrevista. Para começar, poderia nos contar um pouco sobre sua formação profissional e acadêmica?

Dr. Daniel San Juan: Muito obrigado pelo convite da Neurovirtual para contar um pouco sobre minha trajetória profissional como Neurologista de adultos, Neurologista Clínico e Epileptologista. Durante todos esses anos de formação em universidades no México, através da Universidade Nacional Autônoma do México, da Universidade de Harvard, nos EUA, e depois com meu mestrado na Alemanha, tive a oportunidade de adquirir as habilidades e conhecimentos necessários para tratar de forma abrangente os pacientes neurológicos.

NV: Como foi sua experiência como presidente da Sociedade Mexicana de Neurofisiologia Clínica?

Dr. DSJ: Particularmente, foi uma honra presidir a Sociedade Mexicana de Neurofisiologia Clínica, que possui uma longa tradição na área. A propósito, durante meu período como presidente, completaram-se cinquenta anos dessa instituição. Através do contato direto com meus companheiros mexicanos, tive a oportunidade de obter uma visão geral sobre o estado atual da neurofisiologia. Além dos desafios que ela possui e também as oportunidades que existem para melhorá-la. Foi uma experiência verdadeiramente enriquecedora tanto pessoal, quanto profissional. E também acadêmica, que é o objetivo da Sociedade.

NV: Qual foi sua experiência como pesquisador do Instituto Nacional de Neurologia e Neurofisiologia do México?

Dr. DSJ: O Instituto Nacional de Neurologia é um centro neurológico de alto nível. É um dos centros de excelência em Neurologia na América Latina. Foi uma honra que, quando comecei a trabalhar neste instituto em 2008, eu tenha tido acesso a todas essas pesquisas que possuíam como objetivo o estudo do sistema nervoso em seres humanos. Além disso, tive a oportunidade de aprender sobre pesquisas pré-clínicas e em animais. É importante destacar que é difícil que outra instituição, no México ou na América Latina, concentre tantas pesquisas sobre as principais doenças neurológicas que afetam os mexicanos. Então acredito que tenha sido enriquecedor para minha formação não só como cientista, mas também como acadêmico e administrador.

NV: Como membro ativo no desenvolvimento de pesquisas científicas em torno da neurologia e neurofisiologia, quais sãos os desafios enfrentados atualmente e como os enfrenta? Pode-se realizar mais pesquisas sobre neurologia, epilepsia e neurocirurgia?

Dr. DSJ: Sim, há muitos desafios que as pesquisas em neurociência clínica ainda enfrentam. No Instituto Nacional de Neurologia, realizam-se pesquisas voltadas aos três principais ramos da neurociência clínica: psiquiatria, neurologia e neurocirurgia. Cada um deles é particular, com abordagens diferentes, mas os problemas neurológicos são semelhantes. Temos, por exemplo, a doença de Alzheimer, doenças vasculares e cerebrais da neurologia. Apesar de não serem tão frequentes globalmente, o manejo de tumores cerebrais pela neurocirurgia também é um desafio que continua vigente. Acredito que a infraestrutura é um elemento importante, tanto quanto os recursos humanos e a formação. É necessário que os médicos especialistas tenham tempo para realizar pesquisas e contruí-las em alto nível.

As instituições governamentais, incluindo as públicas, também precisam de investimento para sua manutenção. Isso tem a ver com os recursos que cada país dispõe, sejam eles econômicos ou de financiamento para projetos de ponta.

Acredito que esses sejam esses os elementos mais importantes para determinar que um grupo de pesquisadores, neste caso, tenha acesso aos pacientes e possa realizar pesquisas: recursos tecnológicos, capacitação e número de profissionais. Além de um financiamento que permita sustentar estas investigações a curto ou a longo prazo.

NV: Doutor, entre as suas mais de setenta publicações sobre neurociência, qual você considera ter sido a mais desafiadora?

Dr. DSJ: É uma pergunta interessante porque acho que também tem a ver com o desenvolvimento profissional. Provavelmente a primeira me pareceu mais desafiadora porque eu estava aprendendo. Mas à medida que você progride, ela segue a mesma curva do aprendizado. Atualmente, creio que sejam os ensaios clínicos que é onde envolvemos seres humanos, especialmente as crianças. Ainda mais quando tenho que realizar intervenções. Essas são as mais desafiadoras porque existem muitos desafios científicos, acadêmicos, éticos, de precaução e segurança  que precisam ser feitos.

Foram realizadas intervenções -farmacológicas e não farmacológicas- que são realmente o ápice e que geraram um desafio muito grande para o pesquisador. Não só para mim, mas para todos aqueles que estão envolvidos na pesquisa. Bem, hoje não se fazem investigações únicas, é preciso coordenar equipes de pesquisa científica e internacionais, o que propõe um desafio ainda maior do que realizá-las localmente.

NV: Sobre sua publicação, “Estimulação catódica transcraniana por corrente contínua na epilepsia refratária: uma terapia de neuromodulação não invasiva”, publicada pelo Jornal Americano de Neuropsicologia Clínica, poderia comentar como essa terapia de neuromodulação é realizada?

Dr. DSJ: Claro! Essa terapia é inovadora, experimental e não invasiva, como o próprio nome diz. Ela possui uma longa história e permite que a atividade cerebral seja modulada. Ao voltar ao México em 2008, depois dos meus estudos na Universidade de Harvard, vi que não haviam recursos para tratamentos acessível aos pacientes com epilepsia de difícil controle. Fizemos, então, uma colaboração com os mesmos professores de Harvard para viabilizar a implementação dessa tecnologia experimental em nossos pacientes. Em 2011, tratamos pela primeira vez pacientes com encefalite de Rasmussen, que é uma forma grave e progressiva de encefalite, e os resultados foram positivos. O tratamento foi replicado na Turquia e na Alemanha. Como é raro, ou melhor, não é tão fácil conseguir pacientes que recebam esse tratamento, fizemos este estudo agora em colaboração com o Boston’s Children Hospital. Esse é o que está publicado no Jornal de Neuropsicologia Clínica, nos Estados Unidos. Incluímos pacientes que são muito mais comuns, crianças e também adultos. O que descobrimos é que é uma terapia segura e eficaz.

De fato, a redução do número de crises nesses pacientes é em torno de 40%. Com os quais os novos medicamentos somados ao tratamento não ofereciam tantos efeitos de redução do número de crises. Então parece ser uma boa opção. Aliás, esse é o ponto importante para convencer a comunidade científica de que “está surtindo efeito”. Acreditamos que esta é uma publicação importante porque é internacional, multicêntrica e também inclui crianças.

NV: Doutor, e que hipótese esta pesquisa propõe?

Dr. DSJ: O que está no cerne de pesquisas desse tipo sobre neuromodulação é que possamos alterar ou inibir a área que tem maior atividade epiléptica. E com isso, é possível diminuir o número de crises convulsivas dos pacientes. Mais interessante do que ver os fenômenos circundantes, é que os pacientes tenham menos crises. E o ponto-chave que estabelecemos foi de até 50%, o que não é fácil de alcançar.

NV: Doutor, você poderia nos contar sobre o convite para ser editor do Jornal de Neuropsicologia Clínica, nos Estados Unidos?

Dr. DSJ: Claro. Sou um membro ativo e agora parceiro da Sociedade Americana de Neurofisiologia Clínica desde que voltei dos Estados Unidos. Tive a oportunidade de ser professor nos Congressos anuais da Sociedade. Em um deles, onde apresentávamos um simpósio voltado para essas terapias experimentais não invasivas de modulação cerebral, surgiu a ideia de que isso pudesse ser colocado em papel. O editor-chefe, Dr. Hossaín, fez este convite pessoalmente a todos os membros do painel que eram mexicanos. E, obviamente, a um representante dos Estados Unidos. Pois bem, agora está lá, em papel, para que todos – mesmo aqueles que não participaram da conferência – possam ter acesso a essas informações, ideias, desafios e desenvolvimentos que a neuromodulação não invasiva implica hoje.

NV: Este é um tratamento alternativo à cirurgia? Para que tipos de epilepsia podemos considerar a neuromodulação?

Dr. DSJ: Neste volume em particular, sugerimos que possa ser aplicado para epilepsias focais. Ainda não é uma terapia comprovada e, portanto, não deve atrasar um paciente candidato a cirurgia de epilepsia. Porém, infelizmente, nem todos os pacientes são candidatos a cirurgia de epilepsia. Alguns sequer são avaliados para isso. Sejam por mitos, riscos ou falta de referência dos médicos. Portanto, constitui uma terapia que no futuro pretende ser uma alternativa para alguns pacientes selecionados. Não para todos.

NV: Em que casos é recomendado que o paciente seja operado para tratar a epilepsia? Essa recomendação de cirurgia muda de acordo com a idade do paciente?

Dr. DSJ: Esta é uma questão muito importante porque já foi discutido que pacientes podem ser operados em muitas idades. No entanto, nos extremos da vida é muito mais difícil, por exemplo, em recém-nascidos ou em pacientes com mais de 65 anos. Por razões médicas e anestésicas, não por questões neurológicas.

A maioria dos pacientes, infelizmente, possuem uma média de 19 a 20 anos de atraso na avaliação para cirurgia de epilepsia. Porém, se um paciente tem… primeiro critério: ter epilepsia que não pode ser controlada com drogas antiepilépticas, seria um candidato a ser avaliado.

Em segundo lugar, se na avaliação abrangente resulta que os estudos mostram todas as anormalidades, tanto por neuroimagem, quanto por achados clínicos e eletroencefalográficos, indica que existe uma área responsável pela geração de todas as crises, e ela pode ser removida. Colocando numa balança: adicionar um antiepiléptico nessas condições, mesmo que seja muito novo, oferece 2% de liberdade de convulsão. Mas talvez com cirurgia, na melhor das hipóteses, traga 80%. Além de abrir a possibilidade de cura.

NV: Você recomendaria o Neurovirtual para outro colega?

Dr. DSJ: Sim. Na verdade, foi outro colega que também me recomendou. Acho que a maneira como esses equipamentos podem ser promovidos ou recomendados é basicamente através do “como funciona”. Não há muitos neurofisiologistas nos países, mesmo nos Estados Unidos não é um grupo muito grande, embora seja um das maiores do mundo. Por isso, a recomendação que se dá de pessoa para pessoa ou quando vemos estudos que foram realizados com equipamentos Neurovirtuais com evidências de que são de alta qualidade, que permitem o processamento de dados, são pontos que nos permitem usar e recomendar esses tipos de dispositivos. Não só o padrão, mas outras opções oferecidas pela empresa.

NV: Doutor, com essa pergunta encerramos nossa entrevista. Mais uma vez, obrigado pelo seu tempo e por ter aceitado.

Dr. DSJ: Muito obrigado à Neurovirtual pelo convite. E a todos os meus colegas neurofisiologistas e interessados ​​na neurociência clínica e na análise particular das funções cerebrais, estes dispositivos que permitem o registo da atividade cerebral e o diagnóstico e modificação no tratamento são altamente recomendados, confiáveis ​​e permitem flexibilidade ao seu dia-a-dia. Muito obrigado.


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