Neurovirtual: Bom dia, doutor. Em nome da Neurovirtual agradecemos por nos receber neste espaço. Poderia nos contar um pouco sobre sua trajetória profissional e acadêmica?
Dr. Franklin Escobar: Claro que sim. Sou médico cirurgião, formado pela Universidade Nacional da Colômbia. Com o tempo, especializei-me em psiquiatria. Depois, fui para Toulouse, na França. Lá na Universidade Paul Sabatier, fiz um ano de medicina do sono, depois voltei para a Colômbia. Aqui, criamos o laboratório do sono do Hospital San Juan de Dios. Depois, fiz mestrado em psiquiatria forense, doutorado em medicina e, desde 2008, estou na Fundación Sueño Vigilia Colombiana. Um centro de sono onde atendemos todos os tipos de pacientes com problemas de sono.
NV: Como os estudos de polissonografia podem ajudar no diagnóstico de pacientes psiquiátricos?
Dr. FE: A polissonografia tem sido utilizada para estudo há muitos anos. Não apenas de pacientes psiquiátricos, mas de qualquer pessoa que experimente distúrbios do sono. Pacientes psiquiátricos têm sido estudados com polissonografia, mas não foram encontradas nenhuma alteração particular ou específica para os diferentes distúrbios. Foram realizados estudos em pacientes com esquizofrenia, depressão, transtorno afetivo e bipolar e não encontraram, digamos, elementos que digam que a polissonografia seja útil para distinguir uma patologia da outra. Em geral, a polissonografia é usada em pacientes psiquiátricos para detectação de distúrbios primários do sono que podem ser comórbidos com a doença psiquiátrica subjacente.
NV: Junto com outros médicos, você publicou o artigo “Recomendações da Associação Colombiana de Medicina do Sono para a prática da medicina do sono durante a pandemia de COVID-19 na Colômbia”. Como foi escrito este artigo?
Dr. FE: Bom, este artigo é fruto do trabalho da diretoria da Associação Colombiana de Medicina do Sono. Ao ver a grave situação do país em relação à pandemia e que as pessoas seguiam necessitando fazer estudos nos diferentes laboratórios do sono, mantendo todas as medidas de segurança que foram estabelecidas para evitar a propagação da COVID, decidimos revisar a literatura médica sobre o assunto. Vários guias foram estudados: americanos, europeus e latino-americanos. E com base neles, fizemos uma adaptação para poder criar algumas recomendações sobre como os laboratórios do sono deveriam funcionar durante esse período. Essas recomendações ainda permanecem em vigor. Felizmente, a maioria dos laboratórios do sono na Colômbia as adotou e com isso, foi possível continuar com muitos estudos do sono mesmo durante a pandemia. Felizmente, houve pouquíssimos casos de qualquer contaminação por COVID entre os nossos pacientes.
NV: Você acredita que a telemedicina e os exames domiciliares podem ser boas opções para diagnósticos durante e após a pandemia?
Dr. FE: Isso é indiscutível. Desde a pandemia, tudo o que tem a ver com telemedicina disparou. Já estávamos trabalhando em projetos como esse antes, pois temos consultas que envolvem todas as especialidades relacionadas com a medicina do sono. Temos neurologistas, otorrinolaringologistas, pneumologistas, pediatras e psiquiatras que fazem parte da medicina do sono. Além de especialistas da área. Por conta disso, vimos a necessidade de fazer telemedicina. E com a chegada da pandemia de COVID, essa demanda aumentou. Tivemos que nos adaptar rapidamente. Fizemos um ótimo trabalho adequando o programa que já tínhamos para os pacientes que possuem CPAP (Pressão positiva contínua na via aérea) pois sofrem de apneia do sono.
Durante a pandemia nenhum paciente foi negligenciado, todos receberam atendimento via teleconsulta. Foram realizados atendimentos de medicina do sono, psiquiatria, psicologia e até mesmo pneumologia. Isso permitiu que os pacientes continuassem seus tratamentos de forma adequada, mesmo sem o deslocamento. É algo que a pandemia trouxe e irá permanecer. Atualmente, continuamos fazendo telemedicina, monitoramos a adesão ao CPAP dos pacientes através da internet, por meio de diferentes tecnologias que já existem. Isso nos permite ter certeza se o paciente está usando seu equipamento, se a máscara está adequada ou se tem vazamentos.
Também fizemos muitos exames domiciliares com transmissão dos sinais via internet. Isso também nos permitiu avançar um pouco no conhecimento dessas novas técnicas polissonográficas.
NV: Qual é a relação entre transtornos psiquiátricos e medicina do sono?
Dr. FE: Existe essa conhecida relação, digamos, desde que se criou a medicina do sono. Ela nasce da psiquiatria e da neurologia. Os psiquiatras são os que mais recebem pacientes com problemas de sono. Principalmente por conta da insônia. Ou porque a pessoa não consegue iniciar o sono, ou porque acorda muitas vezes pela noite, ou também porque acorda durante a madrugada por certos distúrbios. Também nos procuram quando o paciente dorme por muito tempo e não sabe o que fazer. Por conta disso, de maneira natural, os psiquiatras sempre lidaram com distúrbios do sono. O que faz com que essa relação -entre psiquiatras e distúrbios do sono- seja muito próxima.
O que acontece é que nos últimos anos a questão da apneia do sono ganhou muita força e muitas pessoas a identificam como se a medicina do sono fosse apenas isso. Mas não é, a apneia do sono é apenas um dos distúrbios encontrados na classificação internacional de distúrbios do sono. Existem cerca de 100 ou 120 transtornos que são manejados por aqueles que se dedicam a isso.
NV: Doutor, como os médicos avaliam as consequências da pandemia de COVID-19 associada ao isolamento social para a saúde mental?
Dr. FE: Também por conta da pandemia, nós da Universidade Nacional da Colômbia decidimos escrever um artigo sobre as consequências que poderiam ser geradas pela pandemia na saúde mental dos pacientes. Trabalhamos neste artigo com alguns residentes de psiquiatria e o publicamos no banco de dados SciElo e também em uma revista de anestesiologia colombiana. O artigo já tem mais de 300 visualizações no Scielo e mais de 240 citações. Foi um grande sucesso podermos contribuir com o conhecimento da humanidade. Além disso, temos sido citados em muitos lugares, porque demos a conhecer que ao olhar para as pandemias anteriores, não apenas a última, mas as de muitos anos, a população apresentaria transtornos de ansiedade, depressão, insônia, estresse pós-traumático e um aumento da violência doméstica. Era algo que já era conhecido, e é que foi visto e está sendo notado durante a pandemia.
NV: Nos atendimentos de paciente com transtornos psiquiátricos, como o médico deve considerar a qualidade do sono do paciente durante o diagnóstico? Existe alguma recomendação?
Dr. FE: Sim, sempre. Qualquer paciente deve ser avaliado pelo aspecto de seu sono. No entanto, os médicos não têm uma formação muito boa porque as escolas médicas, ou não fornecem, ou é muito raso. Então, às vezes, os médicos não sabem perguntar sobre essas alterações e não diagnosticam, não tratam. O psiquiatra sim, costuma ter treinamento para descobrir, pelo menos, o que acontece com o sono dos pacientes. Normalmente, o que o psiquiatra faz é tratar essas alterações com medicação. Alguns psiquiatras que sabem um pouco mais sobre distúrbios primários do sono, podem encaminhar seus pacientes para centros de sono, como o que temos aqui na Fundación Sueño Vigilia Colombiana. Aqui, nos dedicamos a fazer um estudo polissonográfico, ou todos os estudos de sono que geralmente existem e oferecer avaliações médicas com o especialista correspondente.
NV: Como a sonolência diurna excessiva e a insônia afetam a vida das pessoas? Quais são as consequências a longo prazo para os pacientes que sofrem de insônia?
Dr. FE: Bem, o sono e a sonolência diurna excessiva são males do nosso tempo. Isso também me permitiu produzir um livro junto a Universidade Nacional da Colômbia. Ele foi publicado a pandemia e você pode encontrá-lo na página editorial da Universidade. Nele, descrevemos como a insônia é um mal da atualidade, já que a luminosidade da terra aumentou – antes as pessoas dormiam em cavernas e árvores. Então foi criada a luz e agora a internet. As pessoas ficam até altas horas da madrugada conversando no celular, olhando para o iPad, para o computador. São milhares de telas em todos os lugares. Isso vem diminuindo as horas de sono e a longo prazo causa insônia ou distúrbios do sono. As pessoas no dia seguinte se sentem cansadas, não conseguem ficar alertas, então tendem a adormecer, ou adormecer de forma incomum em lugares onde deveriam estar alertas. Na verdade, a insônia e a sonolência excessiva são males atuais que devem ser controlados porque afetam a qualidade de vida, afetam a saúde das pessoas.
NV: Doutor, pacientes com insônia e sonolência diurna excessiva sofrem mais de transtornos psiquiátricos?
Dr. FE: Sim, principalmente pacientes que sofrem de sonolência diurna excessiva. Pessoas que dormem mais horas por dia, ficam mais tempo na cama e isso está intimamente associado à depressão e a alguns transtornos de personalidade. Enquanto pacientes que sofrem de insônia, tendem a sofrer de transtornos de ansiedade. Isso porque a pessoa vai para a cama, coloca a cabeça no travesseiro e começa a refletir sobre as coisas, começa a ruminar os problemas do dia, o problema do trabalho, os problemas com a família ou com o parceiro, e isso faz com que ela não consiga conciliar o sono e passe a noite sem dormir. Então, sim, tem muito a ver.
NV: Doutor, como tem sido a experiência de trabalhar com a marca Neurovirtual, equipamentos e suporte técnico?
Dr. FE: A Neurovirtual é uma empresa parceira da Fundación Sueño Vigilia Colombiana desde que chegou à Colômbia. Tive a oportunidade de conhecer ao Ed Faria, e fizemos uma boa amizade. Desde que chegou à Colômbia, trabalhei com ele no apoio científico ao desenvolvimento do software que administramos. Temos equipamentos Neurovirtual em nossa Fundação. Conhecemos desde os primeiros equipamentos até os mais modernos, que foram adquiridos este ano e estão atualmente em funcionamento. São equipamentos muito bons.
NV: Você recomendaria o Neurovirtual para outros colegas?
Dr. FE: Claro, a Neurovirtual pode ser altamente recomendada por serem equipamentos que permitem bons estudos do sono. Podem ser facilmente qualificados e os softwares e hardwares atuais são mais fortes, mais sólidos que os do passado. Obviamente eles conseguiram um bom desenvolvimento e posicionamento. Acho que na Colômbia quase todos os laboratórios de sono têm – quero dizer, os grandes laboratórios de sono – quase todos têm algum tipo de equipamento Neurovirtual. Conheço muitos centros do sono na América Latina que trabalham com essas soluções e das quais as pessoas têm uma opinião muito boa sobre, assim como nós.
NV: Mais uma vez muito obrigado por este tempo e por este espaço.
Dr. FE: Agradeço também por virem a Fundación Sueño Vigilia Colombiana. Somos um centro do sono com várias unidades em Bogotá. Provavelmente no ano que vem abriremos uma unidade em Villavicencio e outra em Ibagué, para que todos os nossos pacientes colombianos que tenham distúrbios do sono possam se consultar em nosso centro especializado, receber atendimento de qualidade e um tratamento adequado.